A verdadeira história de Conde Koma
Vamos conhecer mais um pouco sobre o homem que introduziu o jiu-jitsu no Brasil, através da família Gracie. Uma interessante biografia de Mitsuyo Maeda (Conde Koma), de autoria de Norio
Koyama, "O Sonho do Leão" ganhou o prêmio
de melhor livro de não-ficção da revista japonesa SAPIO. O autor visitou os
lugares em que Maeda esteve (USA, Brasil, Cuba, Espanha, Inglaterra e etc.),
entrevistou os imigrantes que o conheceram, pesquisou seus documentos escolares e
etc. Vou tentar dar aqui um breve resumo do livro: Maeda nasceu em 1878 na
província de Aomori (bem ao norte da ilha de Honshu) e não era de origem nobre,
tendo sido um estudante medíocre; ele chegou em Toquio com 18 anos (1897), onde
iniciou seus treinos em artes marciais, sendo que o Kodokan possui o registro de
sua matrícula desse mesmo ano de 1897. Ou seja, não há nenhuma possibilidade de
que ele tenha estudado Jiu-Jitsu tradicional - ele começou mesmo treinando judô
Kodokan, e logo foi considerado o mais promissor dos estudantes de judô. Em 1904
ele e seu professor Tsunejiro Tomita foram aos EUA para demonstrações de judô, e
ao contrário do que ele dizia, não se encontrou com o presidente Roosevelt na
Casa Branca (na verdade, quem foi instrutor de judô de Roosevelt foi o lendário
mestre Yoshitsugo Yamashita). Depois disso ele deu aulas de judô na Universidade
de Princeton em NY, mas aí ele começou a aceitar desafios de lutadores de outros
estilos (boxe, luta-livre e etc.), o que era proibido pelas regras
do Kodokan. Nesse ponto, há uma dúvida: no fim da vida, o próprio Maeda dizia a
outros japoneses que se arrependia de ter feito isso, pois por esse motivo ele
tinha sido expulso do Kodokan, mas o autor da biografia não encontrou nos
arquivos do Kodokan nenhum documento que provasse que tal expulsão tivesse de
fato ocorrido. De qualquer modo, nesse ponto parece que acabam os laços de Maeda
com o Kodokan e começa a carreira "artística" do Conde Koma. Ele passou a
utilizar esse nome em 1908, na Espanha, para poder desafiar um outro lutador
japonês de judô que estava por lá sem ser reconhecido: em japonês, o verbo
"komaru" significa "estar em situação delicada" - o que era seu caso, pelo menos
do ponto de vista financeiro - ele tirou a última sílaba da palavra e ficou
apenas com Koma, acrescentanto a palavra "Conde" (em espanhol mesmo) por
sugestão de um amigo espanhol. Ele participou de vários torneios de luta-livre,
wrestling e etc. E, embora tenha perdido pelo menos 2 lutas, ele parece ter
vencido na maioria das vezes (há poucos registros históricos confiáveis de suas
lutas). Mas onde existem, esses registros nos dão uma informação preciosa de seu
estilo de lutar: Ele geralmente atacava o adversário com "low-kicks" e
cotoveladas (isso mesmo!!) para depois finalizar o mesmo no chão. Na vedade,
esse era o estilo utilizado por muitos lutadores do Kodokan no início do século.
Em relação ao Brasil, o livro traz informações (valiosas) apenas sobre o seu
trabalho importante no auxílio de imigrantes japoneses e sobre sua vida pessoal
(ele se natuaralizou brasileiro em 1931), mas pouca ou nada sobre as suas
atividades de lutador por aqui. Um historiador
amazonense chamado Rildo Heros Barbosa de Medeiros fez uma pesquisa histórica
sobre o período de Conde Koma no Brasil que é oficialmente reconhecida pelo
Kodokan.Com certeza isso seria de muita importância para todos os afixionados
pelo Jiu-jitsu (mas nesse estudo há a informação duvidosa que o nome Conde Koma
foi adotado por Maeda no México porque ele possuía um olhar triste (o verbo
"komaru" pode realmente ter essa conotação); essa versão foi divulgada pelo
própria Maeda no Brasil, mas na biografia citada acima, é mostrado que essa informação parece não proceder).
Magapi no Twitter
Por: Marc Magapi
Nenhum comentário:
Postar um comentário